quinta-feira, 24 de maio de 2007

MURILO ANTUNES ALÉM DOS VERSOS

Conhecer uma pessoa famosa em sua essência é, normalmente, privilégio de poucos. Em geral, o que se sabe das personalidades diz respeito à sua atuação e não à suas características individuais e pessoais. Em se tratando de um dos maiores letristas do Clube da Esquina, também não seria muito diferente.

Murilo Antunes, amigo e parceiro de Flávio Venturini, Toninho Horta, Márcio Borges e muitos outros, é conhecido por seus poemas e letras de música. Mas afinal quem é esse homem que se define por um trecho de um poema do russo Maiakovski: "comigo a anatomia ficou louca. Sou todo coração”. Quando perguntado sobre seus defeitos, Murilo fica em silêncio e acende um cigarro. Algum tempo depois, exclama: “Isso é resposta para uma seção de análise e não para uma entrevista!”. Sobre suas qualidades ele também não se arrisca a falar. Para ele, são coisas que têm que ser ditas pelas outras pessoas.

Natural de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha, Murilo se mudou para Montes Claros aos sete anos de idade. Lá, foi coroinha e acompanhou padres em viagens pela região norte do Estado. O catolicismo da infância perdeu espaço para uma visão crítica do conservadorismo da igreja, que, para ele, “vai contra a maré em algumas questões fundamentais”. Murilo questiona a liturgia e o excesso de sacramentalismo das igrejas. A sua fé o faz crer que Deus é cada um dos seres humanos. Com essa visão, o letrista diz acreditar e respeitar todas as pessoas que têm percepção social e buscam a melhoria da sociedade.

O primeiro contato de Murilo com a música começou através da mãe, Ester Heloísa Antunes de Oliveira, que cantava canções de serenata para os cinco filhos. A imagem da dona de casa cantarolando “A Noite do meu bem”, de Dolores Duran, não sai da cabeça desse mineiro de 56 anos. Foi em Montes Claros que Murilo realmente começou a entender de música. A família se mudou para lá porque seu pai, Joel Fernandes de Oliveira, na época tropeiro, faliu mas, mesmo com problemas financeiros, quis oferecer aos filhos uma educação de qualidade. Entre as várias lembranças da cidade, ficaram as tardes de sábado, quando a turma do colégio se reunia para tocar, cantar e ouvir músicas. Elvis Presley, Paul Anka, Chuck Berry, MPB, Bossa Nova e outros, faziam parte do acervo musical da turma. Também foi na capital do norte de Minas que o então pré-adolescente fez aulas de violão e conheceu músicas regionais, folclore e festas religiosas como a Marujada e a Festa do Rosário.

O talento artístico desse membro do Clube da Esquina quase foi ocultado por duas vezes. O jovem jogava futebol na lateral esquerda e foi convidado para se mudar para Belo Horizonte e jogar no time do Atlético. O pai pediu para ele esperar pela família, que iria para a capital mineira dentro de alguns meses. No dia de se apresentar ao time, Murilo teve que começar a trabalhar em uma tapeçaria para ajudar a família, que passava por dificuldades financeiras. Logo depois foi trabalhar em um banco, onde permaneceu por dois anos.

O compositor decidiu fazer vestibular para Economia “porque estava na moda”. No entanto, um mês antes das provas, ele adoeceu e teve que ficar de repouso. Durante o período, refletiu bastante e percebeu que estava indo para o caminho errado. Não passou no vestibular para Economia, mas conta, ironicamente, que foi aprovado em Teologia, sua segunda opção (motivada pelos tempos de coroinha). Assim que se curou da doença no pulmão, Murilo estava certo que o seu futuro era a carreira artística.
A relação com a música ficou ainda mais forte quando o poeta se mudou para Belo Horizonte, aos 15 anos de idade. Ele foi estudar no Colégio Estadual Central, freqüentado na época por Márcio Borges, Fernando Brant, Nelson Angelo e Toninho Horta. Assim como acontecia em Montes Claros, Murilo se reunia com os amigos para ouvir e tocar música. Aos 18 anos, compôs “Super-herói”, sua primeira música.

As letras do poeta são inspiradas por suas diversas paixões. Os acontecimentos decorrentes do amor às mulheres, à política, ao povo e às questões sociais são refletidos e transformados em música. Murilo não esconde sua grande admiração pelo sexo feminino. Para ele, as mulheres são mais sensíveis, detalhistas e talvez até mais amorosas que os homens. “O coletivo de mulher deveria ser beleza”, devaneia ele.

O excesso de vaidade e o culto exacerbado ao corpo perfeito, presentes no universo feminino, “e masculino também”, a partir da década de 90, incomodam o compositor. Murilo diz respeitar as escolhas de cada um, mas alega que a busca exagerada por um corpo perfeito leva ao enfraquecimento do espírito. “As pessoas que ficam o dia inteiro nas academias de ginástica ficam mais burras. Quando elas têm tempo para ler um livro, estudar, freqüentar um teatro ou aprender coisas novas?”. A busca por ganhos materiais e por “subir na vida” também não fazem parte do cotidiano do poeta. Para Murilo, a ampliação da mente e o fortalecimento do espírito são mais importantes. Experiências que tiram o ser humano da vida mecânica, “do estado monocorde de só viver o dia-a-dia” devem ser praticadas por todos.

A vida do compositor gira em torno da arte. Música, poesia, cinema, festivais e até propaganda. Atualmente, além de compor, Murilo trabalha em uma agência de publicidade, na parte de criação. A entrevista com ele foi feita em um bar da capital mineira, “afinal de contas, domingo é dia de cerveja”. A conversa foi interrompida às 16h, já que o torcedor fanático não perde os jogos do “Galo”!

Ana Carolina Lima
Maria Silva e Silvério
Foto: Maria Silva e Sivério

4 Comentários:

Blogger 8o JN 1/2007 disse...

Acho que o personagem ´aparece´ pouco no perfil, que opta por contar a vida dele como recurso central da narrativa. Cuidado também com o uso dos links (por que o link para Dolores Duran? Lembrem-se: o link tem função intertextual e intratextual e, em ambos, deve concorrer para aprofundar a perspectiva semântica da narrativa jornalística).
Geane

24 de maio de 2007 às 06:11  
Blogger montanheza disse...

Discordo do cometário da GEANE em 24/05/2007, pois recusar a indicação da Dolores Duran é negar a busca que com certeza só complementaria.
PESSOA ! (Se é que é )ACORDA !

9 de fevereiro de 2010 às 20:21  
Blogger Evelina disse...

Sou irmã de Murilo. Há uma confusão na informação. Nosso pai nunca foi tropeiro. Foi bancário. A família se muda para MClaros sim para os filhos estudarem, mas Papai foi tranferido.

12 de novembro de 2011 às 23:54  
Blogger Unknown disse...

http://assuniversal.blogspot.com.br/

19 de novembro de 2012 às 05:51  

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