domingo, 27 de maio de 2007

SAPATEIRO EM CONCERTO

George Figueiredo
Victor Diniz
Wesley Diniz

O centro de Belo Horizonte abriga vários personagens que a gente, ao passar, não sabe ao certo se são loucos ou gênios. Desde o início da década de 90, o sapateiro Jorge Patrício de Souza é uma dessas figuras que se contrapõem à histeria do centro da capital com apresentações artísticas pouco ortodoxas. Mas, nesses momentos, ele só atende se for chamado pelo codinome de Pétryck Hoowlyday.

Vestindo uma roupa pra lá de chamativa – uma mistura de Elvis Presley com Falcão - e com repertório que vai das músicas do Rei do Rock – seu ídolo maior – a sucessos de Chitãozinho e Xororó ele compete por um pouco de atenção daqueles que passam correndo pelo centro da capital.

O grande objetivo de Pétryck com suas apresentações nas ruas da cidade não é conseguir o que ele chama de “contribuições voluntárias”, mas sim divulgar o seu trabalho. “É assim que consigo meus shows”, explica.

Até o momento, a estratégia parece dar um sucesso relativo. Afinal, hoje ele está bem mais conhecido do que há alguns anos e é cada vez mais solicitado para fazer suas apresentações. “Tenho inclusive um show marcado para uma festa da faculdade de vocês”, vangloria-se com os repórteres. A relatividade da campanha fica por conta dos cachês que ele têm recebido. “O preço é 300. Mas o povo reclama e eu acabo tocando por 100, 80...”, conta com certa frustração, para logo em seguida emendar que “tá melhorando”.

Cansado de falar de dinheiro – assunto que por enquanto não lhe trás boas lembranças – ele muda o papo para outros números bem mais favoráveis a ele. “Tenho mais de 600 músicas próprias e umas 10 mil poesias” gaba-se o autor que até então mostrava-se “apenas” como músico.

O mais interessante desses números não é a pujança deles, mas sim o fato de que boa parte dessas composições é em inglês, língua que o senhor Jorge Patrício de Souza, sapateiro de origem humilde, não lê, fala ou entende. “O bom é cantar o que a gente não compreende. Perde a graça saber o que ta cantando”, filosofa acrescentando que sempre se interessou pela língua inglesa, mas nunca teve vontade de aprendê-la.

Nas músicas próprias fica impossível de entender o que ele está querendo dizer, mas é ótimo vê-lo esgüelando versos como “Uá guebi luba, uá don môu” ao interpretar o clássico Tutti Frutti, de Elvis.

Como muito dos que “passam” por seus shows na rua estão acostumados a ouvir e a cantar músicas em línguas que eles não falam, é ainda mais interessante ver o estranho idioma de Hoowlyday ganhar adeptos em suas apresentações pelo centro. Com as pessoas cantarolando trechos compostos por Pétryck. Esse é, sem dúvida, o ponto alto de suas apresentações.

A mania com a língua da rainha fez com que ele mudasse até o nome da esposa. Agora, a antes conhecida como Maria da Graças, é chamada por todos no bairro onde vivem, São Benedito, em Santa Luzia, de Mellry Gracyelly. Obviamente, o marido tem um bom motivo para isso. “Eu tinha que ser casado com uma mulher com nome em inglês. A minha esposa eu não troco de jeito nenhum, o jeito foi mudar o nome”, romantiza.

Por fim, olhando para a brilhante bota que ele calça, vem a dúvida: se ele estava tocando na praça no meio da tarde, quem estaria tomando conta da tal sapataria em que ele disse trabalhar quando a entrevista começou?. “O meu negócio é concerto. Consertar sapato é só quando dá”, encerra a história o intérprete, compositor, sapateiro e filólogo, Pétryck Hoowlyday.

PS: O entrevistado fez questão absoluta de divulgar o contato para show: (31) 3634-2765.
O Cachê é negociável.

2 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Esse cara é uma verdadeira figura! Muito engraçado! Gostei do estilo textual, mas confesos que fiquei curiosa para saber mais coisa sobre o personagem.
Maria Silva e Silvério

29 de maio de 2007 às 13:27  
Blogger 8o JN 1/2007 disse...

Hermano disse:
EU voto nesse para melhor Perfil da sala; bom perfilado, bom texto.

14 de junho de 2007 às 05:30  

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