terça-feira, 29 de maio de 2007

João Herculino


por: Andréa Andrade e Hermano Chiodi


Na vida cometemos erros e acertos. Todos, sem exceção, cumprem a trajetória da vida com a triste certeza de que cometerão algum erro. O que nos impulsiona é a esperança de que nossos acertos sejam mais importantes e numerosos que nossos erros. A morte, destino certo de todo ser vivo, não isenta ninguém de seus erros. Mas existem pessoas que por seus acertos merecem ser lembrados e não podem ser esquecidos. Esse é caso de João Herculino. Personagem importante da política mineira. Foi prefeito de Sete Lagoas, deputado estadual e federal reeleito nos dois cargos, rodou o mundo e presenciou fatos importantes da história de nosso país. Esse texto é mais do que um perfil, é uma homenagem.

“Dizem que uns vêm à vida a turismo, outros vêm para trabalhar. Eu me enquadro entre os últimos”
- João Herculino

O menino, nascido em uma família pobre de Sete Lagoas, há 70 km de Belo Horizonte, começou a trabalhar cedo. Trabalho era a sua disciplina de vida. Dos 9 aos 15 anos trabalhava 18 horas por dia, mas nunca deixou de estudar por causa disso. Ia dormir às duas horas da manhã e se levantava às seis e meia para ir à escola. Com seu jeito exigente, mas simpático, dizia ser “radicalmente contra a proibição do trabalho infantil”. A justificativa é que “a ociosidade é a causa da molecagem, da malandragem, da falta de responsabilidade. A indolência é a mãe de todos os vícios”. Considerava o trabalho a principal escola do mundo e sempre se manifestou contra o trabalho escravo, o trabalho não remunerado.

Ainda criança, trabalhou como tipógrafo, carregou malas na estação de trem, ajudava como servente no grupo escolar lavando banheiros durante a noite, vendia balas no cinema e ainda foi zelador do prédio da liga operária de Sete Lagoas. Formou-se em Direito e morreu como reitor do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB.

O homem de origem humilde gostava de elegância. Vestia-se com ternos sempre impecáveis. Quando não trabalhava, fazia poesias, cantava (chegou até a gravar um CD só para os amigos e familiares), e fazia seus discursos. Toda hora era hora para João fazer um belo discurso, com vocabulário vasto, idéias seguras e pertinentes. Nunca perdia a pose, apesar de tratar a todos da mesma forma, dos empregados aos grandes chefes de estado.

João não era tolerante para com os que alegavam falta de trabalho e lhe pediam ajuda. “No UniCEUB, muitas vezes, alguns rapazes, com 20 anos de idade, acompanhados pelos pais, me procuram pedindo bolsa de estudo, argumentando que não trabalham e não podem pagar. Deixam-me revoltado”, dizia.

Ele contava que um caso que o comoveu. “O pai, para demonstrar que realmente não tinha condições de custear os estudos do filho, apresentou-me as receitas médicas, com todas as despesas de um tratamento do coração. Concedi-lhe a bolsa, mas sob uma condição: o rapaz teria que limpar os vasos sanitários à noite e fazer uma faxina nas salas de aula, como eu fiz para pagar meus estudos. O pai ficou feliz, mas o rapaz recusou”, lembrava.

Desde cedo João Herculino se engajou na política. Em 1949 liderou a greve dos ferroviários, se colocou diante das tropas que queriam invadir a Central do Brasil, onde os trabalhadores estavam reunidos e foi condecorado como um líder da classe operária pelos ferroviários. João Herculino se filiou ao PTB seguindo o conselho de Getúlio Vargas que teria lhe dito “Menino, entre na política! Tu vais ser prefeito de tua terra e eu serei eleito presidente da República. Quando isso acontecer, vais ao Palácio do Catete que vou ajudar na tua administração”.

João fez campanha de bicicleta pelas ruas de Sete Lagoas, pedalando e falando: “Para prefeito, João Herculino”. Mesmo concorrendo com pessoas importantes, o rapaz, com pouco mais de 20 anos, foi eleito prefeito; o prefeito mais jovem do mundo, até então. Debateu política com líderes importantes do mundo como Yasser Arafat, então presidente da autoridade palestina, e Muamar Kadafi, homem forte da Líbia, além de grandes líderes nacionais como Getúlio, JK e João Goulart.

Foi por causa de suas posições políticas que ele foi preso em 1967. Quando o General Costa e Silva tomou posse da presidência, João se preparou para subir a bancada da câmara todo vestido de preto. Um repórter o perguntou se ele estava de luto por algum familiar e ele respondeu que havia morrido sua amada, “a democracia” e que estava de preto “para simbolizar o luto que pairava no coração do povo brasileiro”. Após o discurso seu mandato foi cassado e ele foi preso.

João é um exemplo de força e disciplina. Nasceu pobre, mas com grande coração e muita força de vontade para realizar todos os seus objetivos. Sonhador, o menino conseguiu tudo o que quis na vida. Foi casado duas vezes. Deixou nove filhos, dois enteados, 23 netos e seis bisnetos. Trabalho, educação e disciplina, palavras sempre presentes de João Herculino.

PING PONG

CRONOLOGIA

2 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Como assim fazer uma entrevista pingue-pongue a partir de um livro? Isso é válido?! Confesso que achei um pouco estranho,afinal de contas, as respostas não foram dadas por ele, mas sim, interpretadas pelos repórteres!
Maria Silva e Silvério

31 de maio de 2007 às 13:35  
Blogger 8o JN 1/2007 disse...

1.2007Ousadia Maria!!!!
As respostas já existiam. São trechos retirados do livro. Nós só acrescentamos as perguntas. Foi uma alternativa.

5 de junho de 2007 às 11:47  

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