quinta-feira, 31 de maio de 2007

Heleno de Freitas

por: Marina Toledo e Fabio Gruppi de Freitas

1939. Heleno de Freitas faz seu primeiro jogo pelo Botafogo de Futebol e Regatas. A historia que vêm antes disto não é muito diferente da de inúmeros garotos do interior que buscam em clubes da cidade grande uma chance ao estrelato. Claro, nessa época o futebol era muito diferente do atual, mais amador e com muito menos infra-estrutura, mas a paixão do povo pelo futebol já criava celebridades e uma serie de elementos que vêm agregados a esses mitos sociais.

Quando mudou de sua cidade natal, São João Nepomuceno, para o Rio de Janeiro, ele parece ter encontrado seu terreno. Em Copacabana começou jogando peladas na praia. Onde já causava impressão do que viria pela frente. Em um jogo, após uma jogada, ele começou a brigar com o nada, dando socos no ar. A atitude chamou a atenção de Neném Prancha, amigo e dono do time, que viu um futuro no jogador que apesar de ser esquentadinho, “comia a bola”.

Heleno virou ídolo no Botafogo, jogou pelo Vasco, Boca Juniors, seleção brasileira. A fama, dinheiro e a origem família de classe media, faziam de Heleno um jogador diferente dos outros. Era conhecido como “a elegância do futebol” ou “craque galã”. Formado em direito, sabia falar e freqüentava cassinos com a nata da sociedade. Era bem quisto por todas. E conquistava todos. Menos os que arrumavam confusão com ele. Heleno gerava o ódio de muitos. Ele brigava até com os companheiros de time. Não suportava o erro dos outros.

Em uma de suas brigas mais famosas, Heleno perdeu a chance de voltar a defender a seleção amarela. Flavio Costa, que fora técnico do Botafogo e conviveu algum tempo com a estrela, já não suportava o temperamento de Heleno e não mais o convocou.

Em um jogo amistoso em São João Nepomuceno, sua cidade natal, Heleno deu um soco na cara do adversário com poucos minutos de jogo e fora expulso diante de uma multidão que foi assistir a sua estrela maior jogar.

È esse misto de glamour e decadência que faz de Heleno de Freitas um homem com historia especial. Do que não vi em livros e reportagens houve pouco. Meu pai, Heraldo Filho, conta que quando já fora de si, Heleno o obrigava a sentar-se a sua frente para fingir que jogava gamão com ele enquanto ele mesmo jogava pelos dois.

Para mim, Heleno de Freitas sempre foi um jogador que os bem mais velhos lembravam e que era tio do meu pai. Ano passado, vagando pela internet li uma nota: “O diretor Zé Henrique Fonseca, diretor de “O Homem do Ano” vai dirigir filme biográfico de Heleno de Freitas. Rodrigo Santoro viverá o papel do jogador”. A partir daí também cheguei ao livro escrito por Marcus Eduardo Neves, repórter especial do Jornal dos Esportes: “Nunca Houve Um Homem Como Heleno”.

2007. Faz 48 anos que ele de Freitas morreu. E o garoto de 19 anos fez uma carreira de sucesso. Jogou 18 vezes pela seleção brasileira, fez 14 gols. Teve muitas mulheres, muitos amigos, se formou em direito, arrumou muita briga, ganhou muito dinheiro e muita fama. Terminou em Barbacena, sem mais conseguir viver em sociedade, em um mundo próprio, trancafiado em um sanatório e relembrando as glórias do passado.

Assista a um trecho de um documentário sobre Heleno de Freitas feito pela ESPN Brasil


quarta-feira, 30 de maio de 2007

O espalhador de Passarinhos

por: Clara Massote e Eduardo Drummond


Hugo Eiras Furquim Werneck tem nome famoso, inclusive, nome de uma importante praça na Região Hospitalar de Belo Horizonte. Mas o que pouca gente sabe é que o Hugo Werneck - o da praça, um dos fundadores da Faculdade de Medicina da UFMG e importante estudioso da tuberculose no início do século XX é, na verdade, pai do Hugo Werneck, o perfil desta reportagem.

Décimo primeiro filho de uma família de treze, Hugo (o filho) nasceu em Belo Horizonte em 1919. Seu pai viera à recém-inaugurada capital em 1906 para fazer um tratamento de tuberculose que deu certo, e resolveu fixar-se por essas bandas. Fundou um sanatório para tuberculosos, e se engajou no tratamento da doença, já que o clima de Belo Horizonte era, na época, propício para a melhora daqueles que sofriam desse mal.

Ao longo dos anos, Hugo, o filho, se apegou de tal maneira à cidade adotada por seu pai que, nas férias de verão, preferia ficar na capital a viajar com a família para o Rio de Janeiro. Passava seu tempo livre pegando passarinhos nas matas perto do sanatório de seu pai. E foi assim que despertou em seu jovem coração o amor pelo meio-ambiente, quando o assunto era ainda ignorado pela sociedade.

Formou-se em Odontologia aos 19 anos e atuou até os 80. Apesar de todo o carinho e dedicação pela profissão que escolheu, Hugo afirma que esta não era sua verdadeira vocação, mas sim a ecologia. Casou-se (e quase não se casou, em função de uma convocação para a guerra que nunca aconteceu) em 1942 com Wanda Azeredo, com quem teve 11 filhos que lhe deram 25 netos e 2 bisnetos.

Através de viagens pelas fazendas de amigos, Hugo começou a conhecer e se apaixonar pelo chamado Desertão, ou Sertão, o mesmo sertão mineiro que inspirou Guimarães Rosa em toda sua obra. Lá, no meio de matas e veredas, Hugo pegava passarinhos para que se reproduzissem em cativeiro e depois soltava os filhotes em áreas aonde aquela espécie já não estava presente. Um "espalhador de passarinhos", como afirma um de seus filhos, Humberto Werneck, em uma reportagem sobre o pai.

E foi assim, tocado pela harmonia essencial da natureza que Hugo começou a se engajar em projetos de conservação do meio ambiente e de educação ambiental. Fundou, com amigos, o Centro de Conservação da Natureza, primeira Organização Não Governamental a tratar do assunto no estado. Ao longo de sua trajetória, trabalhou em inúmeros projetos relacionados ao meio ambiente, como ocupar a presidência da Fundação Zoo Botânica de Belo Horizonte, tendo fundado, em exercício, o Borboletário dessa instituição.

Atualmente, Hugo é conselheiro de várias iniciativas relacionadas à preservação da natureza, como na Belgo Mineira, na Odebrecht e no Ministério do Meio Ambiente. Mas a grande lição de Dr. Hugo Werneck será sempre a de observar e respeitar a frágil filosofia da natureza para aprendermos a viver melhor em sociedade.

Apaixonado por carros

João Victor Leite e Marcelo Zicker

Arlindo Gonçalves, o “Seu Arlindo”, tem 72 anos e é um exemplo de vida. Quatro vezes por semana, ele acorda cedo e, com a ajuda dos netos, sai pelas ruas do bairro Dom Cabral, Califórnia e João Pinheiro para vender verduras e fazer novos amigos. Arlindo reconhece que não tem mais ânimo para andar todos os dias e que o dinheiro das vendas não é lá grande coisa, mas reencontrar as antigas amizades e passar mais tempo com os netos vale o sacrifício.

Capixaba de Vila Ibituba, distrito de Baixo Guandu, o vendedor mora a 37 anos no bairro João Pinheiro e divide o mesmo lote com mais seis famílias, todas formadas por seus filhos e netos. Ele se alegra por ter uma família grande, casado há 52 anos com Valmerinda Gonçaves da Silva, o casal possui 13 filhos, 31 netos, dois netos adotivos e dois bisnetos.

Arlindo é aposentado e recebe um salário mínimo por mês. Encontrou nas verduras um meio de completar a renda da casa e continuar seu antigo hobby, colecionar carrinhos de brinquedo. “Desde pequeno eu guardava todos os carrinhos que meu pai fazia para mim, cuidava com tanto carinho que eu nem deixava os outros meninos usarem”, diz.

Sempre que pode, Arlindo compra mais um carro para a sua frota. É só ver um carrinho numa vitrine ou banca que ele logo se apaixona. “Os que eu mais gosto são os caminhões, eu tenho um monte. O problema é que nem sempre tenho dinheiro para comprar mais. Eu queria era comprar todos”, fala.

Hoje sua coleção chega a mais de 200 tipos de miniaturas. São carros de todos os tamanhos e modelos, mas um é especial para ele. “Ainda tenho um carrinho que meu pai me deu quando eu completei 12 anos, esse meus netos nem podem chegar perto”, conta o aposentado com alegria.

A paixão por carros do aposentado vem desde pequeno. Aos dez anos de idade ele já ajudava a família nas ocupações da roça, guiando “carro de boi”. Já foi caminhoneiro, tratorista, taxista, motorista de ônibus, e sempre um entusiasmado por carrinhos de brinquedo.

Arlindo espera que os netos sigam o exemplo do avô e dêem continuidade a sua coleção. “Meus filhos nunca deram confiança para carrinhos, o negócio deles era jogar bola. A minha esposa sempre me avisou que carrinho é coisa de menino. Ainda bem que tem netos meus que adoram os meus brinquedos”, disse.

O Despertar de Dama Dorme

Em meio a uma confusão, um personagem se resolve
e, através da imaginação, se desenvolve


Maria Eduarda Borelli
Mariana Faria

“Acredita, bonita!”. Essa é uma das várias frases e gírias irônicas que o designer e artista contemporâneo Virgílio de Andrade lançou e consagrou na cena underground de Belo Horizonte. A expressão foi criada como uma brincadeira em resposta à atitude falsa e bajuladora das personalidades da noite urbana. Vivendo em um mundo de exibição e superficialidade, estas pessoas realmente acreditam em si mesmas e nos elogios afetados que trocam entre si. É aí que entra a piada inteligente de Virgílio. Mas o que um jovem estudante de 23 anos, nascido em Patos de Minas, tem de peculiar?

Virgílio é simples, e ao mesmo tempo complexo. Uma figura que leva tempo para se compreender, e que se esforça para compartilhar com o mundo os seus pensamentos, críticas e ironias. Até aí tudo bem, já que os jovens têm mesmo essa tendência a ser rebeldes e revolucionários. A diferença está no modo como isso é feito.

Esse mesmo homem do qual falamos, vindo de uma família tradicional e conhecida no interior, é tímido desde criança e sempre gostou de inventar personagens. Com a sua “criatividade à flor da pele”, inventou já adulto a personagem performática Dama Dorme e se tornou ícone em um universo noturno que ele mesmo critica, mas não hesita em dizer que adora. Virgílio é assim, uma figura paradoxal, de múltiplas facetas. Ao mesmo tempo em que se destaca simplesmente como sendo Virgílio, com seu visual peculiar, ele também é capaz de encarnar características da personagem Dama Dorme, em uma relação de mão dupla que nem ele sabe explicar.

Virgílio Antônio Rodrigues de Andrade

Na cidade onde nasceu, na região do Alto Paranaíba, Virgílio não é conhecido como Dama Dorme e sim como filho do falecido “Antônio do judô”, já que seu pai, Antônio da Silva Andrade, foi o primeiro mestre da luta, em Patos de Minas. Apesar de hoje parecer improvável e talvez até impossível, Virgílio já foi campeão mineiro de judô, quando era criança e passava o dia na rua, brincando de subir em árvores, uma característica “bem interior”. leia mais...

Dama Dorme

A personagem performática de Vírgílio é conhecida como Dama Dorme, e vive em um mundo alternativo regado a drogas e música eletrônica. É considerada por ele como “escrachada”, “podrona” e um “clown”, “palhaço total”, que atrai a curiosidade das pessoas.
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Dama Virgílio

Virgílio e Dama Dorme realmente parecem ser uma pessoa só. Mas qual a separação entre eles? Ele é um homem barbudo que se diz tímido desde a infância. Ela é uma mulher que, de tão impactante, chega a ser assustadora. “Sou muito Virgílio, e adoro a Dama Dorme. O Virgílio é meigo, a Dama Dorme é trasheira”. Dama Dorme é o alterego e a principal válvula de escape de Virgílio. Dama Dorme é “muito maior e mais famosa que Virgílio”. leia mais...


terça-feira, 29 de maio de 2007

João Herculino


por: Andréa Andrade e Hermano Chiodi


Na vida cometemos erros e acertos. Todos, sem exceção, cumprem a trajetória da vida com a triste certeza de que cometerão algum erro. O que nos impulsiona é a esperança de que nossos acertos sejam mais importantes e numerosos que nossos erros. A morte, destino certo de todo ser vivo, não isenta ninguém de seus erros. Mas existem pessoas que por seus acertos merecem ser lembrados e não podem ser esquecidos. Esse é caso de João Herculino. Personagem importante da política mineira. Foi prefeito de Sete Lagoas, deputado estadual e federal reeleito nos dois cargos, rodou o mundo e presenciou fatos importantes da história de nosso país. Esse texto é mais do que um perfil, é uma homenagem.

“Dizem que uns vêm à vida a turismo, outros vêm para trabalhar. Eu me enquadro entre os últimos”
- João Herculino

O menino, nascido em uma família pobre de Sete Lagoas, há 70 km de Belo Horizonte, começou a trabalhar cedo. Trabalho era a sua disciplina de vida. Dos 9 aos 15 anos trabalhava 18 horas por dia, mas nunca deixou de estudar por causa disso. Ia dormir às duas horas da manhã e se levantava às seis e meia para ir à escola. Com seu jeito exigente, mas simpático, dizia ser “radicalmente contra a proibição do trabalho infantil”. A justificativa é que “a ociosidade é a causa da molecagem, da malandragem, da falta de responsabilidade. A indolência é a mãe de todos os vícios”. Considerava o trabalho a principal escola do mundo e sempre se manifestou contra o trabalho escravo, o trabalho não remunerado.

Ainda criança, trabalhou como tipógrafo, carregou malas na estação de trem, ajudava como servente no grupo escolar lavando banheiros durante a noite, vendia balas no cinema e ainda foi zelador do prédio da liga operária de Sete Lagoas. Formou-se em Direito e morreu como reitor do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB.

O homem de origem humilde gostava de elegância. Vestia-se com ternos sempre impecáveis. Quando não trabalhava, fazia poesias, cantava (chegou até a gravar um CD só para os amigos e familiares), e fazia seus discursos. Toda hora era hora para João fazer um belo discurso, com vocabulário vasto, idéias seguras e pertinentes. Nunca perdia a pose, apesar de tratar a todos da mesma forma, dos empregados aos grandes chefes de estado.

João não era tolerante para com os que alegavam falta de trabalho e lhe pediam ajuda. “No UniCEUB, muitas vezes, alguns rapazes, com 20 anos de idade, acompanhados pelos pais, me procuram pedindo bolsa de estudo, argumentando que não trabalham e não podem pagar. Deixam-me revoltado”, dizia.

Ele contava que um caso que o comoveu. “O pai, para demonstrar que realmente não tinha condições de custear os estudos do filho, apresentou-me as receitas médicas, com todas as despesas de um tratamento do coração. Concedi-lhe a bolsa, mas sob uma condição: o rapaz teria que limpar os vasos sanitários à noite e fazer uma faxina nas salas de aula, como eu fiz para pagar meus estudos. O pai ficou feliz, mas o rapaz recusou”, lembrava.

Desde cedo João Herculino se engajou na política. Em 1949 liderou a greve dos ferroviários, se colocou diante das tropas que queriam invadir a Central do Brasil, onde os trabalhadores estavam reunidos e foi condecorado como um líder da classe operária pelos ferroviários. João Herculino se filiou ao PTB seguindo o conselho de Getúlio Vargas que teria lhe dito “Menino, entre na política! Tu vais ser prefeito de tua terra e eu serei eleito presidente da República. Quando isso acontecer, vais ao Palácio do Catete que vou ajudar na tua administração”.

João fez campanha de bicicleta pelas ruas de Sete Lagoas, pedalando e falando: “Para prefeito, João Herculino”. Mesmo concorrendo com pessoas importantes, o rapaz, com pouco mais de 20 anos, foi eleito prefeito; o prefeito mais jovem do mundo, até então. Debateu política com líderes importantes do mundo como Yasser Arafat, então presidente da autoridade palestina, e Muamar Kadafi, homem forte da Líbia, além de grandes líderes nacionais como Getúlio, JK e João Goulart.

Foi por causa de suas posições políticas que ele foi preso em 1967. Quando o General Costa e Silva tomou posse da presidência, João se preparou para subir a bancada da câmara todo vestido de preto. Um repórter o perguntou se ele estava de luto por algum familiar e ele respondeu que havia morrido sua amada, “a democracia” e que estava de preto “para simbolizar o luto que pairava no coração do povo brasileiro”. Após o discurso seu mandato foi cassado e ele foi preso.

João é um exemplo de força e disciplina. Nasceu pobre, mas com grande coração e muita força de vontade para realizar todos os seus objetivos. Sonhador, o menino conseguiu tudo o que quis na vida. Foi casado duas vezes. Deixou nove filhos, dois enteados, 23 netos e seis bisnetos. Trabalho, educação e disciplina, palavras sempre presentes de João Herculino.

PING PONG

CRONOLOGIA

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Bendito dáblio

por: Thiago Nogueira


A faxineira Maria Sônia de Souza, 50 anos, nunca podia imaginar que pronunciar errado a letra dáblio (w) pudesse dar tão certo. Nem mesmo que uma tal de internet a credenciaria à fama e ao sucesso. Desde que seu colega de trabalho, o estudante de veterinária Micael Lima, 19, resolveu gravá-la dizendo o endereço eletrônico do YouTube e postar o vídeo no próprio site, a vida de Sônia mudou.


Entrevistas e mais entrevistas. Autógrafos e mais autógrafos. Autógrafo? “Eu pensei que eles queriam me seqüestrar. Mas depois o Micael me disse que eu podia dar autógrafo, é só relaxar e ter paciência”, conta Sônia, se referindo à primeira vez que foi reconhecida na rua, em Indaiatuba, no interior de São Paulo, onde mora.


Antes de qualquer coisa, se ainda não viu o Fala Sônia, veja:


A versão acima é a original, aquela postada por Micael Lima em dezembro de 2006. Depois de colocá-lo no ar, o vídeo demorou a cair no agrado popular. O “vírus Fala Sônia” só se espalhou quando Micael – agora, empresário da faxineira – passou a mostrar a gravação em sua página no Orkut.


Daí por diante, a internet, por sua essência, se encarregou de proliferar o vídeo. Usuários do YouTube duplicaram o vídeo diversas vezes. A gravação já foi vista por mais de três milhões de pessoas. Mas esse é apenas o começo. Muitos subprodutos do Fala Sônia vieram em seguida:


: Entrevista da Sônia
: Risada da Sônia
: Funk do Fala Sônia Remix
: Kibe Loco – Fala Sônia
: Sônia no Charges.com.br
: Comunidade Fala Sônia no Orkut


Mas afinal, quem é Sônia? Sônia é aquela pessoa espalhafatosa, simples, humilde, com pouca educação, mas sempre de alto-astral. Estudou até a quarta série primária e nem sabe direito o que é a internet, a mídia que a projetou.


“Eu nunca tinha ouvido falar disso não”, conta ela, em um tom de pesar. O jeito natural a coloca, às vezes, em situações constrangedoras, mas ela nem sabe dos “vacilos” que dá. “Meu sonho é continuar trabalhando para ajudar a família. Graças a Deus está tudo dando certo”, é só o que pensa.


Sônia adora cantar, mas ao seu estilo, aportuguesando as palavras inglesas. As canções favoritas são as românticas, “do Titanic, do Ghost e da Indomada”, como ela as distingue. A falta de instrução a transforma em uma “comediante ambulante”.


Depois do sucesso do vídeo, muitos internautas duvidaram da real espontaneidade de Sônia. Outras pessoas também criticaram o vídeo por explorar a educação restrita da faxineira. Nada disso. Sônia é assim mesmo. “A intensão agora é só ajudá-la”, diz Micael.


A faxineira nasceu em Caratinga, no Leste de Minas. Ainda bebê, mudou-se para Belo Horizonte, onde se casou e teve seis filhos. Na capital, morou a maior parte do tempo na região do Bairro Gameleira. Em 1983, mudou-se com o marido e os filhos para Carmo da Mata, no Centro-Oeste mineiro. O esposo faleceu em 2003.


O atual companheiro, o zelador Célio Marcos Teixeira, de 63 anos, Sônia conheceu no casamento de uma amiga. “Ele me viu no casamento e disse: que morena ajeitada!”, conta Sônia. Célio, também viúvo e pai de quatro filhos, morou boa parte da vida em Carmo da Mata.


Já há algum tempo trabalhando em Indaiatuba, no interior paulista, Célio levou Sônia para morar com ele e, de quebra, foi o responsável por arranjar o emprego que, mais tarde, lhe daria a fama repentina.


O zelador trabalha em uma das filiais da Omni Internacional, empresa especializada em marketing e comércio eletrônico com escritórios em vários países. Foi da empresa que ela ganhou dois sites: um blog, que funciona como um clipping de matérias publicadas pela mídia, e uma loja virtual, onde ela pretende faturar com sua exposição. “O patrão já prometeu aumento também”, garante.


Folha OnLine, portal de notícias G1, Jornal Correio Popular, de Campinas, Jornal Popular, de Manaus, Jornal Valor Econômico, Jornal Extra, revista PublicidAD e os sites internacionais Excite Itália e Expresso, de Portugal, deram destaque para a faxineira em seus noticiários. Ela esteve também, ao vivo, no programa Bom Dia Mulher, da RedeTV.


Além disso, o empresário de Sônia recebeu sondagem dos programas Pânico na TV e Superpop, da RedeTV, Domingo Legal, do SBT, e Domingão do Faustão, da Rede Globo, para tê-la em sua programação. O certo, até agora, é participação de Sônia no programa Caldeirão do Hulk, da Rede Globo. “Vou conhecer o Rio, que emoção!”. Ela gravou no dia 28 de maio. A atração deve ir ao ar no próximo sábado, dia 2 de junho.

domingo, 27 de maio de 2007

SAPATEIRO EM CONCERTO

George Figueiredo
Victor Diniz
Wesley Diniz

O centro de Belo Horizonte abriga vários personagens que a gente, ao passar, não sabe ao certo se são loucos ou gênios. Desde o início da década de 90, o sapateiro Jorge Patrício de Souza é uma dessas figuras que se contrapõem à histeria do centro da capital com apresentações artísticas pouco ortodoxas. Mas, nesses momentos, ele só atende se for chamado pelo codinome de Pétryck Hoowlyday.

Vestindo uma roupa pra lá de chamativa – uma mistura de Elvis Presley com Falcão - e com repertório que vai das músicas do Rei do Rock – seu ídolo maior – a sucessos de Chitãozinho e Xororó ele compete por um pouco de atenção daqueles que passam correndo pelo centro da capital.

O grande objetivo de Pétryck com suas apresentações nas ruas da cidade não é conseguir o que ele chama de “contribuições voluntárias”, mas sim divulgar o seu trabalho. “É assim que consigo meus shows”, explica.

Até o momento, a estratégia parece dar um sucesso relativo. Afinal, hoje ele está bem mais conhecido do que há alguns anos e é cada vez mais solicitado para fazer suas apresentações. “Tenho inclusive um show marcado para uma festa da faculdade de vocês”, vangloria-se com os repórteres. A relatividade da campanha fica por conta dos cachês que ele têm recebido. “O preço é 300. Mas o povo reclama e eu acabo tocando por 100, 80...”, conta com certa frustração, para logo em seguida emendar que “tá melhorando”.

Cansado de falar de dinheiro – assunto que por enquanto não lhe trás boas lembranças – ele muda o papo para outros números bem mais favoráveis a ele. “Tenho mais de 600 músicas próprias e umas 10 mil poesias” gaba-se o autor que até então mostrava-se “apenas” como músico.

O mais interessante desses números não é a pujança deles, mas sim o fato de que boa parte dessas composições é em inglês, língua que o senhor Jorge Patrício de Souza, sapateiro de origem humilde, não lê, fala ou entende. “O bom é cantar o que a gente não compreende. Perde a graça saber o que ta cantando”, filosofa acrescentando que sempre se interessou pela língua inglesa, mas nunca teve vontade de aprendê-la.

Nas músicas próprias fica impossível de entender o que ele está querendo dizer, mas é ótimo vê-lo esgüelando versos como “Uá guebi luba, uá don môu” ao interpretar o clássico Tutti Frutti, de Elvis.

Como muito dos que “passam” por seus shows na rua estão acostumados a ouvir e a cantar músicas em línguas que eles não falam, é ainda mais interessante ver o estranho idioma de Hoowlyday ganhar adeptos em suas apresentações pelo centro. Com as pessoas cantarolando trechos compostos por Pétryck. Esse é, sem dúvida, o ponto alto de suas apresentações.

A mania com a língua da rainha fez com que ele mudasse até o nome da esposa. Agora, a antes conhecida como Maria da Graças, é chamada por todos no bairro onde vivem, São Benedito, em Santa Luzia, de Mellry Gracyelly. Obviamente, o marido tem um bom motivo para isso. “Eu tinha que ser casado com uma mulher com nome em inglês. A minha esposa eu não troco de jeito nenhum, o jeito foi mudar o nome”, romantiza.

Por fim, olhando para a brilhante bota que ele calça, vem a dúvida: se ele estava tocando na praça no meio da tarde, quem estaria tomando conta da tal sapataria em que ele disse trabalhar quando a entrevista começou?. “O meu negócio é concerto. Consertar sapato é só quando dá”, encerra a história o intérprete, compositor, sapateiro e filólogo, Pétryck Hoowlyday.

PS: O entrevistado fez questão absoluta de divulgar o contato para show: (31) 3634-2765.
O Cachê é negociável.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

SE VIRANDO, MAS SEM SE MEXER

Gabriel Senna
Leandro Maia
No meio da Praça Sete, em Belo Horizonte, o mundo praticamente acontece. Ali, tem um pouco de tudo, do mais comum ao que Deus duvida. Um lugar onde o tempo é curto e, por isso, os passos são largos, apressados. É ali, bem no centro do centro de uma capital cada vez mais frenética que um homem resolveu ganhar a vida com calma, devagar, sem se mexer. Literalmente. Jéferson da Silva é a mais antiga estátua viva, ainda em atuação, de Belo Horizonte.

Em meio a multidão, Jéssica, de 5 anos, pára, espia, e não acredita no que vê. Olha de novo, desconfiada, e continua admirando. Incentivada pelo pai, coloca o dinheiro na caixinha e, de súbito, vem um agradecimento pela gentileza. A estátua se move, manda beijos, e ela, responde com uma gargalhada gostosa que anda em falta por aí. Daquelas que se vê apenas de vez em quando. Cada vez mais de vez em quando. De quebra, coloca mais uma moedinha. E assim, Jéferson vai criando seus dois filhos e sua mulher...

Uma contradição. Inversão da lógica. A estátua, para ganhar a vida, precisa se mover. Quanto mais se mexe, mais ganha. Ficar parado não é lucro. O maior prejuízo que já tomou, foi quando bateu seu próprio recorde. Ficou 6, seis, s-e-i-s horas sem se mexer. Nem um pio. Nem um frame de sorriso. Nem uma piscadela sequer. Ele jura e, quem passa por ali, acredita.

Às vezes, alguém duvida da eficiência da estátua. Já tentaram de tudo para fazê-lo se mexer. Fazem graça, mostram careta, ameaçam empurrá-lo do banquinho de 30 cm que o sustenta. Tudo em vão. Mas um dia, ele confessa, tremeu nas bases. Achou que fosse o fim de sua carreira. Sim, porque estátua que não tem auto-controle não é digno da profissão. A investida de um transeunte foi forte. O rapaz ficou a manhã inteira passando de lá pra cá com uma galinha na cabeça. E pior, a galinha era malabarista, ficava em cima da careca dele apenas com um pé. Quando cansava, mudava para outro pé, aos pulinhos... Mas não! Nem um esboço de sorriso.

A única vez que perdeu a pose foi quando um espertinho meteu a mão na caixinha do seu ganha-pão. Ele desceu do banquinho e saiu atrás do larápio. Quem estava por perto, se surpreendeu com a velocidade da estátua, sempre tão calma!. Voltou com o dinheiro: 0,50 centavos. E nunca mais se ouviu falar em quem o fizesse de bobo.

Jéferson foi apresentado à profissão pela irmã, quando tinha 16 anos. Ela trouxe a idéia depois de uma breve estadia na França. No início, como toda novidade, chamava à atenção e o lucro era grande. Não se lembra quanto, mas como todo bom saudosista, sabe que era bem mais que hoje. Discreto, não revela quando ganha “nem sob tortura”, mas naquela manhã de terça-feira, disse que o dia estava ruim, que não deu para tirar muita coisa.

Mas como tudo é relativo, pouco antes, Clóvis, um morador de rua que passava por ali, não resistiu a tentação e foi conferir o quanto tantas mãos havia deixado naquele “pote”. Ele olha e diz inconformado: “Ta danado. Preciso arrumar um bico desses”. Talvez seja por isso que Jéferson não troca de profissão. Tem se mantido de pé, imóvel, já há 16 anos.

MURILO ANTUNES ALÉM DOS VERSOS

Conhecer uma pessoa famosa em sua essência é, normalmente, privilégio de poucos. Em geral, o que se sabe das personalidades diz respeito à sua atuação e não à suas características individuais e pessoais. Em se tratando de um dos maiores letristas do Clube da Esquina, também não seria muito diferente.

Murilo Antunes, amigo e parceiro de Flávio Venturini, Toninho Horta, Márcio Borges e muitos outros, é conhecido por seus poemas e letras de música. Mas afinal quem é esse homem que se define por um trecho de um poema do russo Maiakovski: "comigo a anatomia ficou louca. Sou todo coração”. Quando perguntado sobre seus defeitos, Murilo fica em silêncio e acende um cigarro. Algum tempo depois, exclama: “Isso é resposta para uma seção de análise e não para uma entrevista!”. Sobre suas qualidades ele também não se arrisca a falar. Para ele, são coisas que têm que ser ditas pelas outras pessoas.

Natural de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha, Murilo se mudou para Montes Claros aos sete anos de idade. Lá, foi coroinha e acompanhou padres em viagens pela região norte do Estado. O catolicismo da infância perdeu espaço para uma visão crítica do conservadorismo da igreja, que, para ele, “vai contra a maré em algumas questões fundamentais”. Murilo questiona a liturgia e o excesso de sacramentalismo das igrejas. A sua fé o faz crer que Deus é cada um dos seres humanos. Com essa visão, o letrista diz acreditar e respeitar todas as pessoas que têm percepção social e buscam a melhoria da sociedade.

O primeiro contato de Murilo com a música começou através da mãe, Ester Heloísa Antunes de Oliveira, que cantava canções de serenata para os cinco filhos. A imagem da dona de casa cantarolando “A Noite do meu bem”, de Dolores Duran, não sai da cabeça desse mineiro de 56 anos. Foi em Montes Claros que Murilo realmente começou a entender de música. A família se mudou para lá porque seu pai, Joel Fernandes de Oliveira, na época tropeiro, faliu mas, mesmo com problemas financeiros, quis oferecer aos filhos uma educação de qualidade. Entre as várias lembranças da cidade, ficaram as tardes de sábado, quando a turma do colégio se reunia para tocar, cantar e ouvir músicas. Elvis Presley, Paul Anka, Chuck Berry, MPB, Bossa Nova e outros, faziam parte do acervo musical da turma. Também foi na capital do norte de Minas que o então pré-adolescente fez aulas de violão e conheceu músicas regionais, folclore e festas religiosas como a Marujada e a Festa do Rosário.

O talento artístico desse membro do Clube da Esquina quase foi ocultado por duas vezes. O jovem jogava futebol na lateral esquerda e foi convidado para se mudar para Belo Horizonte e jogar no time do Atlético. O pai pediu para ele esperar pela família, que iria para a capital mineira dentro de alguns meses. No dia de se apresentar ao time, Murilo teve que começar a trabalhar em uma tapeçaria para ajudar a família, que passava por dificuldades financeiras. Logo depois foi trabalhar em um banco, onde permaneceu por dois anos.

O compositor decidiu fazer vestibular para Economia “porque estava na moda”. No entanto, um mês antes das provas, ele adoeceu e teve que ficar de repouso. Durante o período, refletiu bastante e percebeu que estava indo para o caminho errado. Não passou no vestibular para Economia, mas conta, ironicamente, que foi aprovado em Teologia, sua segunda opção (motivada pelos tempos de coroinha). Assim que se curou da doença no pulmão, Murilo estava certo que o seu futuro era a carreira artística.
A relação com a música ficou ainda mais forte quando o poeta se mudou para Belo Horizonte, aos 15 anos de idade. Ele foi estudar no Colégio Estadual Central, freqüentado na época por Márcio Borges, Fernando Brant, Nelson Angelo e Toninho Horta. Assim como acontecia em Montes Claros, Murilo se reunia com os amigos para ouvir e tocar música. Aos 18 anos, compôs “Super-herói”, sua primeira música.

As letras do poeta são inspiradas por suas diversas paixões. Os acontecimentos decorrentes do amor às mulheres, à política, ao povo e às questões sociais são refletidos e transformados em música. Murilo não esconde sua grande admiração pelo sexo feminino. Para ele, as mulheres são mais sensíveis, detalhistas e talvez até mais amorosas que os homens. “O coletivo de mulher deveria ser beleza”, devaneia ele.

O excesso de vaidade e o culto exacerbado ao corpo perfeito, presentes no universo feminino, “e masculino também”, a partir da década de 90, incomodam o compositor. Murilo diz respeitar as escolhas de cada um, mas alega que a busca exagerada por um corpo perfeito leva ao enfraquecimento do espírito. “As pessoas que ficam o dia inteiro nas academias de ginástica ficam mais burras. Quando elas têm tempo para ler um livro, estudar, freqüentar um teatro ou aprender coisas novas?”. A busca por ganhos materiais e por “subir na vida” também não fazem parte do cotidiano do poeta. Para Murilo, a ampliação da mente e o fortalecimento do espírito são mais importantes. Experiências que tiram o ser humano da vida mecânica, “do estado monocorde de só viver o dia-a-dia” devem ser praticadas por todos.

A vida do compositor gira em torno da arte. Música, poesia, cinema, festivais e até propaganda. Atualmente, além de compor, Murilo trabalha em uma agência de publicidade, na parte de criação. A entrevista com ele foi feita em um bar da capital mineira, “afinal de contas, domingo é dia de cerveja”. A conversa foi interrompida às 16h, já que o torcedor fanático não perde os jogos do “Galo”!

Ana Carolina Lima
Maria Silva e Silvério
Foto: Maria Silva e Sivério